O Portal UOL, que pertence ao Grupo Folha, publicou neste sábado (27) o Ranking de Eficiência de Municípios (REM), no qual qualificou as cidades em uma escala de zero (ineficiente) a 1 (eficiência máxima), com base em variáveis que, juntas, sinalizariam o quanto “cada uma entrega mais saúde, educação e saneamento com menos recursos”.
Entre os 5.281 municípios brasileiros pesquisados, Marília foi ranqueada na 58ª posição. A grande maioria das cidades que a antecede é de ‘nanicas’ – a nº 1, mineira Cachoeira da Prata tem pouco mais de três mil habitantes -, salvo algumas exceções: Volta Redonda (RJ), a 9ª, tem 262 mil; e Vitória (ES), a 40ª, soma seus 352 mil habitantes – é a única capital à frente de Marília.
Apesar da posição ‘honrosa’ frente a quantidade de municípios analisados no país, Marília superou a média nacional em apenas dois dos quatro componentes verificados para a mensuração da métrica deste ranking criado pelo jornal ‘Folha de S. Paulo’: 0.799 em Educação, diante de 0,509 no Brasil e 0,972 em saneamento, frente a 0,567.
A cidade ficou abaixo no desempenho nacional em Saúde (0,445, frente 0,500) e quase empatou em Receita Total (0,168 para 0,166). Os números que abasteceram os cálculos do REM foram extraídos dos dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apurados entre 2010 e 2015.
NÚMEROS ELEITORAIS
Esse ranqueamento produzido pela Folha de S. Paulo é divulgado em pleno período eleitoral e será , inevitavelmente, propagandeado pelo sim ou pelo não em relação às gestões municipais que buscam se reeleger ou propor sucessores – ou até, fato raro, nenhuma das hipóteses.
Em Marília, é inevitável que o posicionamento da cidade infle os discursos da campanha do governo atual, que tenta sua reeleição, muito embora o desempenho atual neste ranking esteja de alguma forma vinculado aos governos anteriores de Mário Bulgareli (PDT), que renunciou em 2012, e de Ticiano Toffoli (PT).
É certo e legítimo que a gestão atual também possa se valer em sua campanha dos números do Sistema Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), divulgados em janeiro, que apontaram Marília na 23ª posição em um ranking de desenvolvimento entre os 5.570 municípios do país.
CONTRAPONTOS
Apesar da visibilidade positiva em relação ao Estado e ao País, nem tudo que reluz pelos cálculos das estatísticas é, de fato, a visão colorida que se possa propagandear de Marília. A cidade tem seus méritos, é verdade, mas basta estar aqui para entender que números não são tão eficientes na mensuração da nossa realidade.
Senão, vejamos: a nota quase máxima em saneamento básico (0,97%, pelo REM, da Folha) não consta do imbróglio que se arrasta desde 2005 e que já soterrou mais de R$ 100 milhões sem que a tal ‘Obra do Século’ fosse concluída – os serviços estão paralisados, de novo, desde o 1º semestre de 2015.
Na Saúde, nem o ‘maior investimento dos últimos nove anos’, alardeados pela gestão atual, estimada em 26% do orçamento em 2015, foi gerida de modo a evitar uma das maiores epidemias de dengue da história da cidade, com a fatalidade de, pelo menos 34 pessoas (oficialmente), além dos milhares de casos omitidos pela prefeitura.
Segundo o mesmo ranking da ‘Folha’, Marília dispõe atualmente de 5.534 funcionários. Quase um a cada quatro funcionários foram contratados apenas entre 2004 e 2014, ainda de acordo com o REM. A prefeitura inchou a máquina administrativa, alegou déficit para não cumprir acordos com a categoria e enfrentou a maior greve dos funcionalismo público municipal da história de Marília: foram 35 dias de paralisação, em 2015.
Ou seja: seja qual for o destaque que a administração dê ao posicionamento de Marília no ranking da ‘Folha’, haverá contrapontos necessários que precisam ser ditos, escritos, divulgados, para que a comunidade não se iluda e não fique na superficialidade dos números e méritos sem a ciência do contexto das estatísticas que aparecem de quando em quando por aí.